quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Matias, Homem da Floresta

Por Saulo de Sousa

Matias, nascido em uma colocação de seringueiros, desde cedo aprendeu a lidar com a floresta, a respeitá-la. Sabia ler os sinais da mata, os cantos dos pássaros, e sempre externou seu desejo de voltar à floresta. Mas por motivos mais fortes não o pôde fazê-lo.
Como homem da floresta, foi seringueiro, sabia que ao fazer um corte deveria ter cuidado para não deixar a seringueira morrer. Caminhou por varadouros cortando e retirando o leite desta árvore que por muito tempo foi a vida de muitos antes dele. Matias era chamado assim por ser filho de Moisés Matias de Sousa (1901 - 2001), cearense, alfabetizado que chegou ao acre ainda jovem e tornou-se seringueiro, Matias era o filho mais velho e com seu pai aprendeu que o conhecimento era necessário para sobreviver. Essa convicção de que deveria buscar conhecimento trouxe Matias a cidade, trazendo com ele esposa e filhos.
Foi na cidade que Matias descobriu que havia algo errado, injustiças, um choque para um seringueiro que tinha uma vida diferente daquela que acabava de começar para ele. Para Matias era preciso falar e denunciar o que acontecia àquele povo que vinha das matas para a cidade, era estranho que um documento de Identidade valesse mais que a palavra de um Homem. Era preciso entender aquilo. Mas a expressão era restrita em uma época de ditaduras, aí surge algo para motivá-lo, o Teatro Amador. O Teatro foi a porta que Matias esperava para expressar suas ideias, escrever seus textos baseados no homem da Floresta, na luta do Povo por justiça. É com esse aspecto de luta que Matias influenciou o Teatro Popular no Acre, com seu jeito simples de fazer e ensinar Teatro, representado nas peças: "O Clamor da Floresta e As Matanças de Pedro Biló".
Durante a minissérie da Rede Globo Amazônia, de Galvez a Chico Mendes de 2007, Matias foi colocado junto a Chico Mendes e Hélio Melo na louvação do grupo acreano Jabuti-Bumbá:



‘Viva Chico e Hélio Melo, viva a floresta viva, viva Matias e o teatro popular, viva o Jabuti Bumba’”.






Reverenciando a cultura popular do Estado do Acre.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Matias, Artista das Ruas e do Povo.



Por Mayra de Sousa Galdino








Um pouco sobre o cidadão da mata... Matias como é conhecido José Marques de Souza, foi um dos fundadores das Comunidades Eclesiais de Base (CEB's), em Rio Branco e também do Partido dos Trabalhadores no Acre. Ele criou o grupo de Teatro 'De Olho na Coisa' e do Teatro Barracão, que promovia cultura popular para toda a comunidade. A partir da década de 70 através do teatro denunciava as mazelas que seu povo sofria, sem se importar com o palco... que muitas vezes era o ônibus, as praças, a igreja... e os protagonistas, assim como ele, só representavam a realidade vivenciada. Junto com Abrahim Farhat, João Eduardo e outros companheiros, Matias colaborou na ocupação de toda a região que hoje é chamada de Baixada. Através da arte e cultura popular articulou e ajudou a libertar e devolver a dignidade a muitas das famílias expulsas dos seringais que vinham para a cidade e não tinham onde morar.
Matias faleceu aos 61 anos de idade, em abril de 1997.




Um pouco sobre o parentesco...
Não é difícil falar do “Vô Matias”... ele era uma figura, por mais que tenha nos deixado a mais de 10 anos, e eu apenas uma menina... lembro perfeitamente do jeito de falar, dos olhos vermelhos durante uma discussão, da indignação que ele tinha perante toda injustiça que o rodeava e da gana de fazer algo diferente, ele tinha vontade de mudar... “Ele falava de coisas que pouca gente entendia, como um profeta parecia saber de tudo, dos nomes das árvore, das histórias da mata (...)” Hoje sinto certa frustração, lembro do “Barracão” lotado quando tinha espetáculo..., de sua gente assistindo uma peça montada por um dos seus... crianças da “Baixada” fazendo trabalho de aula sobre o tema... a cultura ali, na esquina, podiam entrar de short, camiseta... mas não, iam com roupa de Domingo, a única exigência era prestar atenção... nem precisava, não havia quem piscasse, ninguém queria perde nenhum segundo... Em 2007 é o aniversario de 10 anos de sua morte... e sei que ele ficaria feliz em ver seu nome ligado a uma casa de leitura, a um centro poliesportivo e a salas temáticas... no entanto, Matais é apenas um nome, mas quem é Matias?



Qual é o seu legado? Pretendo iniciar uma corrente... e que meus filhos e os filhos de meus filhos um dia saibam que Matias foi muito mais que um parente... e sim, um dos grandes responsáveis pelo Movimento Cultural do Estado do Acre. “(...) Agora, mora no andar de cima, onde montou oficina e trabalha tranqüilo a grande Obra, ao lado de Deus, aqui em baixo ficou um enorme vazio” (Trechos do poema "Saudade" de Moises Matias)


Mayra de Sousa Galdino